Uma das mais importantes figuras da literatura portuguesa, Maria Teresa Horta conjuga com perfeição a luta feroz pelas causas que defende e o fulgor da escrita. Com um vasto e diferenciado acervo literário que inclui poesia e prosa, a obra da escritora tem o erotismo e a intervenção social como temas constantes. Os textos, no conjunto, falam sobre questões que permeiam o universo feminino a partir de contos que valorizam a mulher no tempo e no espaço dentro da cena literária. Além disso, tratam de temas antigos à literatura, especialmente a portuguesa, como o fingimento e a relação com a história do país. Azul Cobalto reúne 12 contos que foram publicados em Portugal: “Lídia”, “Calor”, “Uriel”, “A princesa espanhola”, “Com a mão firme e doce”, “Raízes”, “Laura e Juliana”, “Efémera”, “Eclipse”, “Leonor e Teresa”, “Transfert” e “Azul Cobalto”. A pedido de Maria Teresa Horta, a obra foi editada no Brasil com o texto original, no português de Portugal, porque a autora discorda do acordo ortográfico assinado entre os países lusófonos. A poetisa, ficcionista e jornalista portuguesa Maria Teresa Horta lança no Brasil Azul Cobalto, livro de contos editado pela editora Oficina Raquel (Rio de Janeiro). Uma das mais importantes figuras da literatura portuguesa, Maria Teresa Horta conjuga com perfeição a luta feroz pelas causas que defende e o fulgor da escrita. Com um vasto e diferenciado acervo literário que inclui poesia e prosa, a obra da escritora tem o erotismo e a intervenção social como temas constantes. Os textos, no conjunto, falam sobre questões que permeiam o universo feminino a partir de contos que valorizam a mulher no tempo e no espaço dentro da cena literária. Além disso, tratam de temas antigos à literatura, especialmente a portuguesa, como o fingimento e a relação com a história do país. Maria Teresa Horta vence Prémio Casino da Póvoa com EstranhezasJúri decidiu por maioria premiar um livro que é um “canto celebratório” da poesia. Anúncio abriu esta manhã a 22.ª edição (em formato online e compactado) do festival Correntes d’Escritas.26 de Fevereiro de 2021, 11:19 actualizado a 26 de Fevereiro de 2021, 12:12“Este é um livro muito especial para mim, e muito ambíguo. O último livro de uma partilha”, diz Maria Teresa Horta ao PÚBLICO sobre Estranhezas, livro com que venceu por maioria a edição 2021 das Correntes d'Escritas. Pela primeira vez em formato virtual, o festival que arrancou esta manhã com o anúncio da obra galardoada com o prémio Casino da Póvoa dedica a sua 22.ª edição ao escritor chileno Luís Sepúlveda, que morreu na Primavera passada, vítima de covid-19, após uma passagem pelo evento da Póvoa de Varzim.Com um valor de 20 mil euros, o prémio Casino da Póvoa consagra um livro que, no entender do júri, “subverte e actualiza a ideia de poesia como canto celebratório”. Emocionada, Maria Teresa Horta refere-se a Estranhezas de forma muito íntima. “É um livro de que gosto muito, estranho. Ser este livro a ganhar o prémio perturbou-me um pouco porque me trouxe tudo de volta.” A escritora refere-se à relação “apaixonada” com o marido, o jornalista Luís de Barros, que morreu em Novembro de 2019, e ao qual dedicará o seu próximo volume de poesia, Paixões, que sairá ainda este ano. “Não é apenas [ter] um prémio, é ter um prémio com este livro”, insiste a escritora depois de saber que a sua obra foi a escolhida entre os 11 livros de poesia finalistas desta edição.“Ganhar o prémio agora, e num festival como as Correntes d'Escritas, onde sempre fui muito bem acolhida, num momento como o que todos estamos a viver, é mesmo uma estranheza. Por tudo isto é importante para mim que este livro tenha um prémio, porque foi o último que fiz com o Luís vivo. É bom, é perturbador. Uma perturbação boa”, continua Maria Teresa Horta, reflectindo sobre um livro que o júri classificou como uma “síntese de um percurso poético ancorado na celebração do corpo e do desejo que estabelece um diálogo transgressor com a lírica medieval e renascentista”.Na nota justificativa do voto, o colectivo composto por Daniel Jonas, Inês Pedrosa, José António Gomes, Luís Caetano e Marta Bernardes acrescenta ainda que Estranhezas “é uma exaltação da paixão, da beleza, do real concreto e efémero eternizado pela deslocação da esfera do tempo para o espaço da escrita”.Publicado no Outono de 2018, o livro divide-se em sete partes: No Espelho, Da Paixão, Da Beleza, Alteridades, Tumulto, Ferocidades e Diante do Abismo. Em todas se pode ler o que a editora da D. Quixote, Cecília Andrade, diz ser a essência poética de Maria Teresa Horta: “Este livro é a poesia da Teresa. A Teresa é aquela pessoa que diz ‘eu sou a minha poesia’. Dito isto, este livro é a Teresa.” Enfatizando o lado autobiográfico deste volume, a editora salienta que toda a obra literária de Maria Teresa Horta “é o que ela pensa, o que ela respira, o que ela sente”.Também o júri destaca o facto de este livro constituir uma revisitação da obra da autora, algo que é sublinhado em cada uma das sete partes em que se divide. Elas “revisitam e deslocam os temas centrais da obra de Maria Teresa Horta que, desde o seu primeiro livro (Espelho Inicial, 1960), criou um glossário e uma sintaxe muito especiais, um idioma singular que subverte e actualiza a ideia de poesia como canto celebratório, brincando com as convenções da rima e do ritmo, fazendo-as implodir num erotismo vital, que se exerce numa contínua experimentação dos limites de nudez e mistério da palavra”.Natural de Lisboa, onde nasceu em 1937, Maria Teresa Horta tem uma obra vasta que oscila entre a prosa e a poesia. Apesar de ser a primeira vez que venceu o prémio Correntes d’Escritas, já tinha sido finalista em edições anteriores, nomeadamente com o romance As Luzes de Leonor (2011), biografia ficcionada da Marquesa de Alorna. Os temas e a linguagem de forte carga erótica são uma das marcas da sua obra, que ganhou uma dimensão marcadamente política quando se juntou a Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno no livro Novas Cartas Portuguesas, volume de que em 2022 se celebrarão os 50 anos.Estranhezas sucede a Sua Excelência de Corpo Presente, do angolano Pepetela, romance vencedor da edição do ano passado (o prémio distingue alternadamente obras de prosa e de poesia). Ana Luísa Amaral, Nuno Júdice, A. M. Pires Cabral, Emanuel Madalena, Eucanaã Ferraz, Fernando Guimarães, Filipa Leal, Gilda Nunes Barata, Jorge Sousa Braga e Rita Taborda Duarte eram os restantes finalistas do prémio Casino da Póvoa 2021.Notícia corrigida: numa versão anterior dizia-se que o prémio tinha sido atribuído por unanimidade, mas foi por maioria
Sobre o autor(a)
Horta, Maria Teresa
Maria Teresa Horta é artista da palavra celebrada em Portugal, reconhecida por seu engajamento político que ultrapassa questões partidárias para atingir o cerne daquilo que há, talvez, de mais político no fazer humano: a arte literária. Autora muitas vezes premiada, Maria Teresa, cuja estreia se deu em 1960, é um dos autores mais importantes da literatura portuguesa de nosso tempo. Sua obra é exemplo vivo da associação que o pensador francês Jacques Rancière faz entre literatura e política, provando que existe um vínculo essencial entre a prática coletiva e a escrita artística. Não é à toa que, junto às parceiras das Novas cartas portuguesas (1972), Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, foi levada a julgamento por não temer enfrentar o poder fascista que vigia em seu país. Atenta às questões do feminino, da política de seu país e a tantas outras questões que perpassam sua arte, Maria Teresa Horta pode ser, agora, lida pelo público brasileiro. |