Em Entre Orfe(x)u e Exunouveau: análise de uma estética de base afrodiaspórica na literatura brasileira, Edimilson de Almeida Pereira propõe dois neologismos por meio dos quais busca entender as diversas variantes da poesia e da literatura nacional. Nesta ode ao mito de Exu, orixá que tem a pluralidade como característica fundamental, o professor, poeta e ficcionista apresenta um olharsingular, pautado pela diáspora africana, sobre a construção literária no Brasil e no mundo.Orfe(x)u, para Almeida Pereira, dá conta das manifestações literárias realistas, pautadas por questões mais concretas e calcadas na experiência, sendo representado pelo estilo de escritores como Luiz Ruffato, Marçal Aquino e Émile Zola, ao passo que Exunouveau se refere às obras em que a intuição e a imaginação são o pano de fundo. Clarice Lispector e James Joyce são exemplos dessa vertente. A mescla de Exu com elementos da cultura europeia não é casual: neste ensaio originalmente publicado em 2017 e revisto e atualizado em nova edição, o autor defende que o orixá da comunicação e da linguagem, em toda a sua pluralidade, pode explicar tanto a literatura clássica quanto aquela de vanguarda. Com isso, ele faz da cultura iorubá um ponto de partida para entender o mundo, assim como o pensamento eurocêntrico tem feito com a própria mitologia ao longo da história. Ao se debruçar sobre o Brasil, com a plena aceitação de que somos um país periférico, Almeida Pereira propõe a análise da nossa cultura a partir de estudos idealizados por outras sociedades fora do eixo Europa-Ocidente e mais próximas a nossa realidade.Neste ensaio incontornável, Edimilson de Almeida Pereira apresenta uma defesa apaixonada da multiplicidade de ideias e da expansão das chaves interpretativas com que lemos a cultura mundial, possível, segundo ele, “desde que em seus horizontes possamos entrever o respeito às alteridades, a vontade de diálogo e a valorização do experimentalismo estético”. Como resultado, tal qual nos mitos eurocêntricos que comumente tomamos de base para as artes, Exu torna-se universal.
Sobre o autor(a)
Pereira, Edimilson De Almeida
Edimilson de Almeida Pereira nasceu em Juiz de Fora, MG, em 1963. É poeta, ensaísta e professor de Literatura Portuguesa e Literaturas Africanas de Língua Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora. Possui uma obra extensa e múltipla, com publicações nas áreas de poesia, ensaio e prosa, na qual se destacam: Zeosório blues (2002), Lugares ares (2003), Casa da palavra (2003), As coisas arcas (2003), Relva (2015), Maginot, o (2015), Guelras (2016), Qvasi (2017) e a antologia Poesia + (2019) — poesia; Malungos na escola: questões sobre culturas afrodescendentes e educação (2007) e Entre Orfe(x)u e Exunouveau: análise de uma estética de base afrodiaspórica na literatura brasileira (2017) — ensaio; Um corpo à deriva (2020), O Ausente (2020, Prêmio Oceanos) e Front (2020, Prêmio São Paulo de Literatura) — prosa. |