Muitos livros contêm em sua premissa elementos com potencial para entreter os leitores da primeira à última página. Este é o caso de Spoonbenders: a fabulosa família Telemachus, do escritor norte-americano Daryl Gregory, que mistura clarividência e psicocinese com agentes secretos da Guerra Fria, mafiosos de Chicago, vigaristas presunçosos e uma família disfuncional passando por uma crise de proporções possivelmente catastróficas. Poucos, no entanto, são os livros que, não só cumprem o que prometem, como conseguem ir além. Este, definitivamente, também é o caso de Spoonbenders.Como o próprio título sugere, a história gira em torno da família Telemachus, cujos membros fizeram um sucesso meteórico, nos anos 1970, ao deslumbrar plateias por todos os Estados Unidos com suas incríveis habilidades paranormais. À frente da trupe, está Teddy Telemachus, ironicamente, o único sem poder psíquico real, mas que compensa sua genética ordinária com muito carisma e a astúcia de um mestre na arte da vigarice.O verdadeiro talento da família sempre foi sua esposa, Maureen, “A Paranormal Mais Poderosa do Mundo”, mas cada um dos três filhos do casal herdou, à sua maneira, os dons da mãe. Irene, a mais velha, é um detector de mentiras humano, capaz de identificar as menores insinceridades ou fabricações nas palavras dos outros; Frankie é um telecinético, permitindo-lhe dominar as máquinas de pinball de sua juventude e, mais tarde, as mesas de roleta de cassinos; e Buddy, o caçula, consegue prever o futuro, incluindo o placar dos jogos que o pai tanto gosta de assistir, mas também tem a habilidade de reviver momentos do passado de sua família como se eles fossem o presente, como se pudesse viajar no tempo e experimentar mais de uma realidade simultaneamente.Os holofotes ficaram para trás, no entanto, e os poderes psíquicos dos Telemachus nunca trouxeram felicidade a nenhum deles, pelo contrário. O agora da família, mais especificamente o ano de 1995, quando o livro começa, não tem nada de fortuito ou extraordinário — exceto para Matty, o filho de Irene, que acabou de descobrir que pode ter herdado os poderes de projeção astral de sua avó. Quando Buddy, que parece ter enlouquecido completamente e recusa-se a dizer palavra aos membros de sua família, passa os dias iniciando um projeto DIY após o outro, na casa de Teddy, com aparentemente nenhum plano para concluir qualquer um deles, sua família não faz ideia de que ele sabe que algo desastroso está para acontecer e tem um plano para salvá-los. Pelo menos ele acha que pode salvar a maioria deles.Apesar dos pesares, que não são poucos, e de todos os tropeços, também inúmeros, a família Telemachus vai fazer você rir alto lendo este livro. E tem mais, eles sabem se unir quando as coisas ficam realmente difíceis e se alguém resolve mexer com um deles, vai ter que se ver com todos eles.O modo como Daryl Gregory consegue manter o ritmo e as rédeas da trama, enquanto conduz o leitor pelos diferentes arcos de história de cada um dos fabulosos membros da família Telemachus, é surpreendente, uma mistura de malabarismo com ilusionismo. Os cenários vão do auge da Guerra Fria, em meio a temores de espionagem psíquica russa, aos nostálgicos anos 1990, com o advento da internet discada e uma nova onda de crime organizado em Chicago. Mais impressionante ainda é como Gregory amarra os tópicos do enredo, culminando em um grand finale, elegante e engenhoso.Spoonbenders é uma ficção fantástica incrivelmente original, engraçada e inesperadamente reconfortante, que facilmente vai figurar a lista dos livros mais imaginativos e bem escritos que você já leu. Não se trata de um típico romance sobre dramas familiares, mas é divertido e envolvente como os melhores deles, com personagens cujo charme não tem nada de truque barato. O livro tem também um quê de thriller de suspense, levando o leitor em um passeio de montanha russa que vai fazer tremer até o mais corajoso fã de histórias de gangsters. A família Soprano encontra Truque de Mestre, com toques de Arquivo X (sem os alienígenas, mas com muitas coisas inexplicáveis). Nos agradecimentos finais, Gregory escreve o seguinte sobre os poderes psíquicos de seus personagens: “nada disso é real, amigos.” Mas o melhor truque deste escritor é nos fazer acreditar que é.
Daryl Gregory é autor de Afterparty, The Devil’s Alphabet e outros romances para adultos e jovens leitores. Sua novella We Are All Completely Fine ganhou o World Fantasy Award e o Shirley Jackson Award. Ex-professor de ensino médio e programador, ele agora é escritor em tempo integral com eventuais incursões em quadrinhos e roteiros de videogames. Gregory foi criado nos subúrbios de Chicago e hoje vive em Oakland, na Califórnia.
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Sobre o autor(a)
Gregory, Daryl
Daryl Gregory é autor de Afterparty, The Devil’s Alphabet e outros romances para adultos e jovens leitores. Sua novella We Are All Completely Fine ganhou o World Fantasy Award e o Shirley Jackson Award. Ex-professor de ensino médio e programador, ele agora é escritor em tempo integral com eventuais incursões em quadrinhos e roteiros de videogames. Gregory foi criado nos subúrbios de Chicago e hoje vive em Oakland, na Califórnia. |